Acabei de ler hoje o novo livro de Naomi Klein A doutrina do choque: a ascensão do capitalismo de desastre. Simplesmente um dos melhores livros que já li e recomendo que todos leiam. Com uma escrita primorosa, daquela que não te dá vontade de parar de ler, Naomi passa a limpo vários acontecimentos do século XX disparados por ou seguidos de mudanças econômicas, tais como as propagadas por figuras como Milton Friedman e Friedrich Hayek. Ela denuncia a sinistra ligação entre catástrofes naturais e provocadas, aparentemente sem relação geográfica e/ou histórica: o golpe de Pinochet no Chile; o massacre da Praça de Tiananmen; o Colapso da União Soviética; o 11 de setembro de 2001; a guerra contra o Iraque; o tsunami asiático e o furacão Katrina. O que todos esses acontecimentos têm em comum é que eles se mostraram como momentos de excelente oportunidades para o livre-mercado contemporâneo, cuja história foi escrita em choques e onde tais eventos catastróficos são extremamente benéficos para as corporações.
Para Naomi, a doutrina do choque é uma filosofia de poder que sustenta que a melhor maneira, a melhor oportunidade para impor as idéias radicais do livre-mercado é no período subseqüente ao de um grande choque. Esse choque pode ser uma ditadura militar, uma crise econômica. um desastre natural, um ataque terrorista ou uma guerra. Mas, a idéia é que essas crises, esses desastres, esses choques abrandam a sociedades inteiras, deslocam-nas. Desorientam as pessoas e abre-se uma "janela". E, a partir dessa janela, pode-se introduzir o que os economistas chamam de "terapia do choque econômico". Assustada, a população se torna um alvo fácil; e indefesa busca alguém que a proteja. Através do choque, as pessoas são forçadas a serem obedientes em troca de um mínimo de estabilidade e segurança.
Naomi nos diz que o principal instrumento para a aplicação da terapia de choque econômico é o próprio Estado. Para conseguir empréstimos, praticamente todos os países em crise precisam aceitar diretrizes impostas por agências supranacionais como o FMI e o BM, que desagradam a maior parcela de sua população, e só conseguem colocar em prática tais diretrizes a base de ditaduras ou governos com mãos de ferro. Como já apontaram Negri e Hardt, cria-se uma interdependência que coloca em crise a autonomia do político e promove o surgimento de um sistema econômico autônomo, à prova de democracia, e que dita os rumos das decisões políticas, já que qualquer medida tomada por determinado governo que fuja das diretrizes negociadas pode afugentar investidores, principalmente os especuladores, e acarretar na quebra do país.
Acima disponibilizo o documentário, baseado no livro, que Naomi Klein realizou com o mexicano Alfonso Cuarón.
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